segunda-feira, 27 de abril de 2009

O Yahoo! anunciou esta semana que fechará o Geocities até o final do ano. Nada demais, visto que é um serviço que tornou-se com o tempo obsoleto e quase irrelevante.

Os preços de hospedagem e registro de domínio são acessíveis à maioria dos usuários da internet, e os serviços de blogs, sites de relacionamento e, mais recentemente, microblogging, permitem ao usuário "estar" na rede sem necessitar conhecimentos de web design ou hospedagem gratuita.

Tudo muito normal se uma estranha nostalgia não me acometesse ao ler essa notícia. Sim, nostalgia dos tempos em que, a despeito das agruras e lentidões da internet discada, nós vivíamos uma época de total romantismo e sensação de "desbravamento" em relação à vida on line.

Lembro das interfaces dos chats, aonde tínhamos que dar "refresh" na página para que ela carregasse mostrando o que havíamos acabado de falar e também o que as pessoas haviam nos respondido. Lembro da felicidade que era receber um email, quase como se fosse uma carta chegando pelo correio.

O início do mIRC, o surgimento do ICQ, aquela época em que precisávamos scannear uma foto para poder "mostrar quem éramos" e onde as relações eram quase entre "pen-pals", só a conversa e o conteúdo importavam (e as decepções eram motivo de riso depois).

Mas também existiam os encontros irresistíveis, aonde tudo clicava. Amizades surgiam, amores nasciam. Conheci um dos grandes amores da minha vida na internet, pessoa que até hoje é minha grande amiga, e imagino quantos bebês de hoje, não são filhos daquela turma pré-2.0.

Era uma época de superar as fronteiras de um mundo totalmente novo e conectado. Tinha muita sacanagem, é claro, mas não havia essa objetividade e essa sensação de micareta virtual que a era do "tem cam?" fez surgir.

E o Geocities fez parte de tudo isso. Era uma sensação muito boa caçar apostilas grátis de HTML básico no Lycos ou no Altavista e ficar horas testando aquelas tags, trocando as cores, o tamanho das fontes, encontrando gifs animados, barras, botões que piscavam, imagens de fundo.

Ok, vistos sob a estética clean de hoje, eram sites feios, toscos, bregas.
Brilhavam demais, tudo se mexia demais, eram cheios de poluição visual, cores berrantes, avisos de "clique aqui", tão necessários num tempo em que mal sabiamos o que fazer na rede. Mas quem liga? Naquela época eram um orgulho para quem podia dizer "vai lá e visita a minha home page".

Existiam home-pages sobre o que a imaginação pudesse pensar nas "cidades" do Geocities. Bandas de rock, páginas pessoais, páginas de animais de estimação, sobre sexo, receitas, tudo. E com aquela estética bem característica da internet "1.0".

O término das atividades deste servidor gratuito, coloca mais uma pá de cal sobre um ícone dos primeiros anos da internet, aonde nós éramos early adopters de tudo, ainda que por inércia e sem saber que esse termo seria um dia inventado.

Com ele, se foram os bons tempos do mIRC, de alguns serviços de busca que encolheram, do e-groups que trocou de nome e perdeu função nessa época de tantos veículos de troca de informação, foi-se a usabilidade (e a necessidade) dos Foruns e grupos de discussão em geral, coisas que um dia ainda serão tratadas com a mesma reverência "museológica" com que hoje pensamos na TV em preto e branco.

Mas tudo bem, foram tempos que vivi com muita alegria e hoje relembro com muito orgulho e sensação de privilégio por ter presenciado.

Caminhei pelas ruas "recém-asfaltadas" da internet, onde existiam pouquíssimos trolls, nenhum miguxo e quando a inclusão digital ainda não havia trazido para a rede quase todas as mazelas com as quais já nos deparamos em nosso dia-a-dia "off-line".

Mais um pedaço da história que muitos de nós vivemos se vai, mas a parte boa disso é que outras tantas ferramentas e manias surgem na velocidade da banda larga.
Quem sabe daqui a alguns anos não estarei aqui falando com saudades sobre o Twitter, o Orkut ou mesmo o MySpace?

É o destino natural das coisas. Ainda mais na internet 2.0, aonde tudo acontece incrivelmente ainda mais rápido do que nós, internautas velhos e saudosistas, jamais poderíamos imaginar naqueles idos da década de 90.

Seguem alguns links de antigos sites hospedados no Geocities (visitem, enquanto ainda estiverem lá):





 
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