quarta-feira, 16 de abril de 2008

Enquanto observo a fumaça subindo da xícara de café e respiro fundo para absorver seu aroma, vejo as pessoas nas mesas em volta de mim. Quem realmente dentre todas é feliz nessa vida?

Sei bem da minha, eu que durante noventa por cento do tempo me acho bem menos do que sou e que passo os dez por cento restantes me achando bem mais do que mereço. Vivo nessa corda-bamba, sem ter certeza de nada, sem saber se o que faço sequer conta. Quem estaria interessado em reflexões e modelos de mais um ser humano que sente? Todos, afinal, não sentem?

E a vida corre doce e amarga, como menta sobre chocolate, ardendo deliciosamente sobre nossa língua. Refrescando sem no entanto nada fazer além de enganar. Tudo são sensações, como a felicidade ou a tristeza, que no fundo não existem e são apenas pontos de vista que não conseguimos dissociar de nossa realidade.

Enquanto a criança corre pela rua e a mãe morre de medo dela cair e se machucar, o velho que passa do outro lado pensa em como seria bom poder correr daquele jeito de novo e a balzaquiana que toma sua água mineral lamenta-se, silenciosamente, porque ainda não tem por quem sentir aquela proteção.

Chora-se em grandes apartamentos enquanto outros riem somente sob a luz das estrelas, sem precisar nem de teto, ainda que isto seja raro. E não deveria ser.

Não existe fórmula para realizar-se, e essa impossibilidade nos faz cobiçar tudo, devorando o mundo à nossa volta tal qual uma nuvem de gafanhotos. E ainda que nada material importe, seja porque se tem tudo ou porque nada se deseja, vivemos de nos inflar, afinal, também existe uma grande soberba escondida sob a humildade e o desapego.

É muito complicado respirar e sentir, viver e existir sem poder comprar essa tal felicidade empacotada em algum shopping da vida. Seria tudo bem mais simples, bastaria trabalhar muito, poupar ou abrir um crediário.

Um comentário:

ana disse...

adorei! me identifiquei bastante :)

 
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