terça-feira, 16 de junho de 2009

Em quase todo lugar onde estiverem mais de uma dúzia de seres-humanos, grupos se formarão e fatalmente um grupo tentará sobrepujar-se ao outro. O próximo passo é o grupo que conseguir o mando dizer que não o possui de fato, para curiosamente fazer de tudo para defender o que diz não ter ou existir, ou seja, o seu "domínio".

Divaguei demais, melhor ser logo concreto e dar nome aos bois. Lá pelos idos de 2000, quando apareceram os primeiros blogs, não existiam redes sociais.

Existiam poucos entendidos sobre "tendências" online e menos ainda professores que passavam a vida dando palpite sobre o que é "relevante" ou não na internet. Era mais ou menos como uma grande folha em branco, para ser escrita por milhões de mãos, as mãos dos primeiros "blogueiros".

Não eram tantos quanto hoje, mas já eram bem variados. Desde os comuns "Meus queridos diários" até temas tão pouco universais quanto micronacionalismo, música aborígene e o acasalamento das borboletas púrpuras de Nairobi, qualquer um dizia o que bem entendia e claro, alguns por seu próprio mérito ou por doses cavalares de auto-promoção das mais variadas, começaram a sobressair.

Não sou e nem pretendo ser estudioso do assunto, então o que conheço é basicamente isso: uma ferramenta para escrever e despejar permalinks, onde adolescentes querendo descarregar hormônios e frustrações, escritores querendo mostrar sua obra, entendidos de vários assuntos querendo falar sobre suas áreas de atuação e tudo mais que se puder imaginar (até o diário de uma prostituta, por exemplo) podiam usar e abusar da liberdade e da capilaridade que a rede possui.

A ferramenta explodiu, muitos enjoaram, muitos outros permaneceram e Blogs e blogueiros cresceram, a ponto disso virar até profissão.

Até que recentemente surgiu o Twitter, ferramenta mais sintética do que o Blog (apenas 140 caracteres para dar seu recado), mais dinâmica, mais interativa e com uma capacidade de penetração muito maior. O Twitter é mais conversa enquanto o Blog é mais monólogo.

E os "blogueiros influentes", ou a nata do nitrato da elite da já elitizada internet brasileira, correu ao serviço de microblogging tal qual os pioneiros foram para o Oeste, ou seja, dispostos a trucidar qualquer coisa que vissem pela frente, fazer seu assentamento e continuar dali a ditar o que vale e o que não vale em termos de conteúdo.

Só que encontraram "nativos" um pouco mais charmosos e "na moda", como foi o caso da Tessália (@twittess). Bonitona, com 40 e tantos mil seguidores, admitiu ter usado script pra inflar o perfil (assim como o @interney , a @rosana e mais um monte de blogueiros que foram tentar a sorte no Twitter também admitiram) e, pecado mortal, começou a aparecer mais do que os proxenetas da Bloggaria aparecem.

Quanto abuso!

Uma pessoa que não passa o dia nos contando as "10 maneiras de ser chato",ou "10 formas de tornar seu blog relevante",ou "20 formas de tornar-se um blogueiro de sucesso", ou ainda "30 pessoas que você precisa começar a ler", uma menina que não "ganha a vida" pra blogar, que não é especialista na Audigy 7.1 e não escreveu 57 artigos sobre esta mesma placa, que não tem "história", como é que pode dar entrevista na Playboy, aparecer em reportagens aqui e ali e ainda ter a audácia de querer emitir opiniões sobre redes sociais, conteúdo e outros assuntos assim tão complexos que somente PhDs e fodões deveriam ter permissão para falar?

Causou um incômodo danado.

Até que alguém roubou o perfil da menina, deletou tudo e ela perdeu a sua conta que era uma das mais populares do Brasil.

A Twittess aliás era uma pessoa que eu criticava porque só linkava matérias e batia papos, mas que não merecia ser vítima de um crime digital por isso. Mas fazer o que? Ela foi.

Criticar enquanto a pessoa tem 40 mil seguidores, é polemizar, criar debate. Chutar na cara quando acontece uma coisa dessas, demonstra bem o tipo de caráter (aliás, falta de) que vários demonstraram.

O desfile de gozos, urros e fogos em comemoração à débacle da moça foi, pelo menos, uns 10 pontos acima do tom.

E o que vi no fato de muitos indivíduos auto-denominados "sérios" e "relevantes" quase melarem as cuecas e calcinhas com o ocorrido foi mais um episódio de alívio e vingança do que sentimento de justiça propriamente dito.

É aquela coisa no estilo "Desgraçada! Eu passei anos vomitando sobre como as pessoas devem ou não postar, falando sobre capacitores eletrolíticos e agora ela chega com um sorriso, uma pintinha na boca e um script e aparece mais do que eu! Morra vadia!".

Como tem gente que tem orgulho até de dizer que vive de blogar, que é tarado por monetização, etc, creio que estas comemorações tenham sido parte de uma bem sucedida estratégia de reserva de mercado. Vendiam monólogos via telégrafo, apareceu alguém oferecendo conversas via Skype. A coisa ficou preta.
É necessário preservar o jabá.

Até elegeram a próxima vítima da perseguição (que inclusive apareceu em uma imagem num dos posts que pisoteavam sobre os despojos do perfil da Twitess) que é a @AlineLii .

O resumo da história é: se você não é oriundo da Blogosfera, se você não participa de estudos sobre as futuras tendências dos serviços de comentários em Blogs, se você não tem nenhuma teoria sobre como ser um internauta que propaga conteúdo de "nível", não ouse aparecer mais do que os que fazem tudo isso.

Alguns usam scripts, mas entre eles, tudo bem. Alguns ofendem até a honra das pessoas (gostam de bancar os grosseiros para aparecer, e só não chamaram a Tessália de "prostituta" textualmente porque não tem coragem para tal). Alguns acham que podem até dizer a você o que ler, o que escrever e até mesmo o que considerar importante, mas se esquecem que são fruto de um ambiente que não aceita amarras e nem regras escrotas, caso contrário, nem eles mesmos existiriam e só poderíamos acompanhar Blogs e Twitters da Globo, Folha, Estadão, etc, etc.

Isso lembra tanto um termo que eu ouço muito em comunidades do Orkut sobre futebol, "a nata da merda".

O que concluo é que esse episódio inteiro é lamentável, mas o que é pior nisso tudo é a sensação de desolação que vem acompanhada da constatação que até num ambiente utópicamente libertário como a internet, em que sonhamos com uma liberdade de informação, opinião, ação e reação sem nenhum tipo de amarra, aparecem sempre os "Sinhozinhos Maltas", "Poderosos Chefões", esses coronéis de araque para tentar ditar regras, impor conceitos e atropelar os "outsiders" como se fossem um rolo compressor.

Professor de blog? PhD de Twitter? Façam-me um favor!

12 comentários:

Flávio disse...

Apoiado em gênero, número e grau.
Casos como este e o da @dani_luxo só me fazem crer que quanto mais a gente sabe, menos a gente sabe. E, desse iceberg, a gente só conhece o que está pra fora d'água.
Abraço,
@flavinhorio

Dea Carvalho disse...

Até que enfim alguém falou a verdade. Às vezes esse mundinho virtual me deixa realmente cansada, tamanha competição, jabá e panelinha.É surreal, mas a competição entre os geeks é agressividade pura! Tsc tsc..

Expedito Paz disse...

Pelo visto, a Tessália fez o cotovelo de muita gente doer, doer muito... po, deixa a garota com os scripts e seguidores dela em paz:)

Carol disse...

Ai gente, como sempre falo, cada um com seu cada um.
Se nao fosse a nata cibernetica (nao apoio essa imposicao de opiniao deles) e pssoas comuns que sobressaem do nada, nao haveria nenhuma polemica. E vamos combinar q as diferencas movem o ser humano!

Gabriela Rolim disse...

Sempre enxerguei sua lucidez, é bom às vezes saber que mais gente pensa como você e que esse mundinho de sinhozinhos Maltas dos blogs não são nada mais que um bando de bobocas recalcados que esquecem que a internet é de todos e se quer fazer sucesso trabalhe em vc, não adianta ficar malhando os outros.

- Outra coisa, CERTO/ERRADO? Isso é tão século 20....

Kerwin Muriel disse...

Ufa! Finalmente alguém com bom senso.

Roberto B. disse...

Parabens. Pessoas com racionalidade são raras hoje em dia.

Prof. Léo disse...

Sineramente não vejo diferença entra a @Twittess e esta "elite blogueira" a que vc se refere no texto. A diferença é que ela usou o Twitter e não os Blogs pra se tornar mainstream. Outsiders pra mim são os milhares de usuários q twittam solitários para seus pouco mais de 100 seguidores...

Jack Daniels da Silva disse...

Cara, Parabéns pelo texto!

Fui um dos poucos que achou legal o fato de uma pessoa anônima como a Tessália dar entrevista na Playboy.Tanto que postei no Liso-Sapiens. Com script ou não... Quem não queria estar no lugar dela?
Eu estava online quando o fato aconteceu e parecia uma festa. Todo mundo metendo o pau na @twittess. Estou seguindo a @aliastes. Novo perfil da Tessália

Tu opnião é a minha.
@unidadelivre

Eric disse...

A melhor maneira de descrever dor de cotovelo que eu já vi. É bem aquilo que a Tessália falou numa entrevista, nego ficou com inveja e medo de ter "suas posições" como relevantes na internet.
O triste que se tira disso tudo é ver que gente que a gente adimira não passa de 2 caras.

Fabys For Fun disse...

Finalmente alguém com bom senso ;]
Deixem a menina em pazzz e cada um no seu quadrado!

@fabysforfun

Valeria disse...

Gente, sinto muito pela @twittess. Confesso que descobri o que aconteceu apenas hoje. Quanto a esta postagem gostaria de dizer que sou professora e uso meus blogs para indicar livros que me agradam e pérolas que vou garimpando na rede como links para downloads grátis e afins para meus alunos e leitores, mas que nunca me passou pela cabeça ser uma ditadora. Quando conheci a ferramenta blog vislumbrei mais uma maneira de compartilhar um pouco de meu conhecimento com quem estivesse interessado em aprender algo tanto como eu estou aprendendo a cada dia. É uma forma de interação como qualquer outra.
Penso que se a @twittess tem liberdade para ser a fofa que ela é , todos também tem direito de divulgar seus livros, de autoria própria ou não, suas opiniões, textos, publicidade, seja lá o que for. Quem é o dono da verdade na Internet? Será que existe uma única verdade ou uma verdade para cada internauta. Sei lá. Para mim só não vale trapacear, denegrir a imagem do próximo ou cometer crimes. Se o leitor gosta ou não do que escrevo, isso é com ele. Eu não vou deixar de brincar de escrever. Os blogs são democráticos.

 
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